Constitucionalismo Negro: elementos de teoria e história constitucional a partir da Revolução Haitiana

Autores

  • Marcos Queiroz Universidade de Brasília e Universidad Nacional de Colombia.

DOI:

https://doi.org/10.4013/rechtd.2021.131.07

Resumo

 

O artigo busca articular aportes teóricos e metodológicos para a pesquisa em história e teoria constitucional tendo como chave a Revolução Haitiana. Para tanto, primeiramente apresentará as principais características da constituição moderna e como elas estão atreladas ao desenvolvimento da modernidade. Em um segundo momento, abordará quatro contribuições gerais para uma leitura do constitucionalismo que leve a sério a diáspora africana, o colonialismo, a escravidão e os impactos estruturais do racismo. Essas contribuições são divididas nos seguintes temas: teoria política moderna; construção do direito moderno; agência negra e historiografia; e medo e constitucionalismo. Com isso, objetiva-se apresentar novas perspectivas para a pesquisa jurídica, contribuindo para um fazer teórico e prático no qual a população negra passe da condição de objetos da história para a de sujeitos políticos.

Biografia do Autor

Marcos Queiroz, Universidade de Brasília e Universidad Nacional de Colombia.

Doutorando em Direito pela Universidade de Brasília. Sanduíche na Facultad de Ciencias Humanas da Universidad Nacional de Colombia, pelo Programa Abdias do Nascimento (Capes). Mestre em Direito pela UnB (2017). Membro do Maré - Núcleo de Estudos em Cultura Jurídica e Atlântico Negro e do Centro de Estudos em Desigualdade e Discriminação (CEDD/UnB). Autor do livro "Constitucionalismo Brasileiro e o Atlântico Negro: a experiência constituinte de 1823 diante da Revolução Haitiana", Lumen Juris, 2017.

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2021-05-11

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Artigos