O positivismo jurídico não legitimou o regime nazista: críticas à falsa associação presente na Fórmula de Radbruch
DOI:
https://doi.org/10.4013/rechtd.2025.172.06Resumo
O presente trabalho busca analisar e contestar as críticas empreendidas contra o positivismo jurídico – notadamente aquele representado por Hans Kelsen, a partir de sua Teoria Pura do Direito -, no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial. Com a instauração do Tribunal de Nuremberg, quando as mais perversas atrocidades admitidas sob o regime nazista foram trazidas a julgamento, o juspositivismo foi posto à prova: teria Kelsen escrito uma teoria que autorizou a instauração de um sistema jurídico totalitário, a partir de uma valoração normativa apartada da epistemologia dos valores? Ao tempo em que busca desconstruir o mito da pobreza moral do positivismo jurídico kelseniano, este trabalho analisa os limites da doutrina jusnaturalista - reavivada a partir da Fórmula de Radbruch -, que, ao prever um direito anterior e superior ao ius positum, apresenta o risco de situar-se acima de qualquer mecanismo de controle social – podendo tornar-se, paradoxalmente, legitimadora de violações atentatórias aos próprios Direitos Humanos. A pesquisa em apreço, por ser de cunho teórico, valer-se-á da revisão da literatura já publicada acerca do assunto. Desse modo, terá um caráter bibliográfico- documental e, como marco/referencial teórico, busca na teoria dos Direitos dos Homens, repensar o conteúdo contemporâneo dos direitos positivo e natural.
Referências
AUSTIN, J. 2007. The Province of Jurisprudence Determined. Cambridge, Cambridge University Press.
BEDAU, H. A. 2000. Anarchical Fallacies": Bentham's Attack on Human Rights. Human Rights Quarterly, 22(1):261-279.
BERGEL, J.-L. 2006. Teoria Geral do Direito. Trad. Maria Ermantina A. P. Galvão. São Paulo, Martins Fontes.
BONNARD, R. 1939. Le Droit et l'Etat dans la doctrine nationale-socialiste. 2e édition, revue et augmentée. Paris, Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence.
BIAZI, C. A. S. M. 2016. A importância de Hugo Grócio para o Direito. Cadernos do Programa de Pós-Graduação Direito UFRGS, Rio Grande do Sul, 11(2):386-406.
BOBBIO, N. 1947. Il diritto naturale nel secolo XVIII. Torino, Giappichelli.
______. 1995. O Positivismo Jurídico. São Paulo, Ícone.
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. 1998. Dicionário de política. 11 ed. v.1. Trad. Carmen C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, João Ferreira, Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini. Brasília, Editora Universidade de Brasília.
CUNHA, P. F. da. 1998. Princípios de Direito: Introdução à Filosofia e Metodologia Jurídicas. Porto, Resjurídica.
DIMOULIS, D. 2006. Positivismo jurídico: introdução a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo jurídico-político. São Paulo, Método.
DOUZINAS, C. 2009. O fim dos Direitos Humanos. Tradução de Luzia Araújo. São Leopoldo, Unisinos.
FARAGO, F. 2004. A Justiça. Trad. Maria José Pontieri. Barueri, Manole.
FONTOURA, J. F. S. da. 2009. Positivismo jurídico e pós-positivismo à luz da metódica estruturante. Dissertação (Mestrado em Direito). Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina.
GOYARD-FABRE, S. 1999. Os Princípios Filosóficos do Direito Político Moderno. Trad. Irene Paternot. São Paulo, Martins Fontes.
HALDEMANN, F. 2005. Gustav Radbruch vs. Hans Kelsen: a debate on Nazi law. Ratio Juris, 18(2):162-178.
HERVADA, J. 2008. Lições Propedêuticas de filosofia do direito. Trad. Elza Maria Gasparotto. São Paulo, Martins Fontes.
KELSEN, H. 1945. General Theory of Law and State. Trad. Anders Wedberg. Cambridge: Harvard University Press.
______. 2006. Teoria Pura do Direito. 5 ed. Trad. João Baptista Machado. São Paulo, Martins Fontes.
______. 1998. O Problema da justiça. Trad. João Baptista Machado. 3 ed. São Paulo, Martins Fontes.
LIZIERO, L. B. da S. 2014. O Pacifismo por trás da Teoria Pura do Direito. In: J. M. Adeodato; Á. de A. Gonzaga. (Org.). Filosofia do direito II. 1ed. Florianópolis: FUNJAB, p. 103-127.
LOCKE, J. 1978. Segundo Tratado sobre o Governo. Trad. E. Jacy Monteiro. São Paulo, Abril Cultural.
LOSANO, M. G. 2008. Sistema e Estrutura no Direito, Vol. 1: Das Origens à Escola Histórica. São Paulo, Martins Fontes.
MACHADO, R. D. 2008. Das críticas e dos preconceitos ao positivismo jurídico. Rev. Fac. Direito UFMG, 52:329-354.
MAUS, I. 2000. Judiciário como Superego da Sociedade: O Papel da Atividade Jurisprudencial na ‘Sociedade Órfã’. Novos Estudos Cebrap, 58:183-202.
MONTESQUIEU, C. de S., B. de. 2011. Do espírito das leis. São Paulo, Martin Claret.
NEUMANN, U. 1995. Positivismo jurídico, realismo jurídico y moralismo jurídico en el debate sobre “delincuencia estatal” em la anterior RDA. Revista DOXA, Doxa - Cuadernos de Filosofía del Derecho, Alicante, 17-18:435-444.
NOVAIS, J. R. 2013. Contributo para uma Teoria do Estado de Direito. Coimbra, Almedina.
PALOMBELLA, G. 2005. Filosofia do Direito. Trad. Ivone Benedetti. São Paulo, Martins Fontes.
RADBRUCH, G. 2006. Five Minutes of Legal Philosophy (1945). Tradução Bonnie Litschewski Paulson e Stanley L. Paulson. Oxford Journal of Legal Studies, 26(1):13-15.
______. 1973. Fünf Minuten Rechtsphilosophie. In: Rhein-Neckar-Zeitung vom 12.9.1945, zitiert nach dem Neuabdruck in: ders., Rechtsphilosophie, 8. Aufl., hrsgg. von Erik Wolf und Hans-Peter Schneider, Stuttgart.
______. 2006. Statutory Lawlessness and Supra-Statutory Law (1946). Trad. , Bonnie Litschewski Paulson e Stanley L. Paulson.: Oxford Journal of Legal Studies, 26(1):1-11.
RIBEIRO, R. J. 2006. Thomas Hobbes, ou: a paz contra o clero. In: A. A. Boron (org.), Filosofia política moderna: De Hobbes a Marx. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales; DCP-FFLCH, Departamento de Ciências Politicas, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP, Universidade de São Paulo.
RINCK, J. A. 2007. Positivismos: uma reflexão conceitual interna sobre Kelsen, Ross e Hart.Phronesis: Revista do Curso de Direito da FEAD, 3:79-95.
ROHLING, M. 2014. Natureza, direito e justiça: o fundamento da lei natural na natureza humana em cícero. Revista Ágora Filosófica, 1(2):144-189.
SACCO, R. 2001. Introdução ao Direito Comparado. Trad. de Vera de Fradera. São Paulo, RT.
SAHD, L. F. N. de A. e S. 2010. Samuel Pufendorf e o discurso dos direitos. Síntese - Rev. de Filosofia, 37(118):243-266.
_____. 2007. Teorias da Lei Natural: Pufendorf e Rousseau. Trans/Form/Ação – Rev. De Filosofia, 30(2):219-234.
SCHIER, P. R. 2007. Novos desafios da filtragem constitucional no momento do neoconstitucionalismo. In: C. P. Souza Neto; D. Sarmento (org,). A constitucionalização do direito. Rio de Janeiro, Lumen Juris.
SCHMITT, C. 2005. Political theology: four chapters on the concept of sovereignty Trad. de George Schwab. Chicago, University of Chicago Press.
_____. 2006. The nomos of the Earth in the international law of the Ius publicum europaeum. New York: Telos Press Publishing.
STRAUMANN, B. 2015. Roman Law in the State of Nature: The Classical Foundations of Hugo Grotius’ Natural Law. Cambridge, Cambrige University Press.
VELÁSQUEZ, G. J. G. 2016. El derecho procesal fundamental. Revista de la Facultad de Derecho y Ciencias Políticas, 97:313-350.
VILLEY, M. 2005. A formação do pensamento jurídico moderno. Trad. Claudia Berliner. São Paulo, Martins Fontes.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Concedo a Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD) o direito de primeira publicação da versão revisada do meu artigo, licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista).
Afirmo ainda que meu artigo não está sendo submetido a outra publicação e não foi publicado na íntegra em outro periódico e assumo total responsabilidade por sua originalidade, podendo incidir sobre mim eventuais encargos decorrentes de reivindicação, por parte de terceiros, em relação à autoria do mesmo.
Também aceito submeter o trabalho às normas de publicação da Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD) acima explicitadas.