doi: 10.4013/ver.2009.23.54.06
O potencial humorístico da charge online: uma leitura da linguagem tendo em vista a mudança do suporteResumo. O propósito dessa investigação é verificar qual o potencial humorístico da charge online tendo como parâmetro a tradicional charge impressa ou fixa. Busca-se verificar quais são os prováveis efeitos de sentido que as charges animadas podem vir a provocar na mente de um intérprete e comparar tais efeitos com os das charges fixas de jornal impresso. Além disso, objetiva-se refletir sobre a manutenção do potencial humorístico das charges, quando elas passam da mídia impressa para a internet. A relevância desta investigação empírica está no fato de se aprofundar o entendimento da charge como linguagem que tem no humor seu interpretante maior.
Abstract. The purpose of this study is to verify that the humorous potential of charge online using as a traditional printed or fixed charge. Seeks to ascertain what the likely effect of the animated cartoons are likely to cause the mind of an interpreter and to compare these effects with those of the fixed charges of the printed newspaper. Moreover, the objective is to reflect on the maintenance of the humorous potential of the charges when they move from print to Internet. The relevance of this empirical research is in fact to deepen the understanding of charge as a language that has humor in his interpretant greater.
Introdução
Acharge, tradicional gênero jornalístico que sempre ocupou espaço nos jornais impressos e revistas, passou a migrar para outras mídias. Começou pela TV e, posteriormente, com o advento do computador, também passou a ser presença assídua na internet, o que permitiu a dança das linguagens verbal, visual, sonora, já que a hipermídia ou era numérica (ou digital) criou uma síntese das matrizes da linguagem e pensamento sonoro, visual e verbal. Mas a passagem da charge da mídia impressa para outras mídias provocou mudança em sua linguagem. Seu poder “de fogo” permanece? Isto é, continuaria a charge, sob novas roupagens, a “retirar os véus que encobrem os recursos sutis da dominação e agir como elemento lúcido e cortante que fere e mina pelo riso a estabilidade do poder” (Souza, 1986, p.2)? Nosso foco nesse estudo são as charges online e esta última é a questão que impulsiona esta investigação.
Para chegar a prováveis respostas na busca de investigar as mudanças ocorridas na linguagem da charge online, precisávamos lançar mão de um instrumental teórico que nos possibilitasse a leitura dos novos meios, que nos permitisse interpretá-los. Dentre as várias disciplinas que, no interior das ciências da linguagem, se ocupam da significação, escolhemos a semiótica peirceana por abarcar toda e qualquer linguagem, verbal ou não verbal.
Os procedimentos metodológicos adotados foram, a princípio, a seleção das charges de jornal impresso e da Internet, mas é a análise semiótica das mesmas que possibilitou o exame das especificidades da linguagem da charge. As charges impressas funcionaram como parâmetro para a verificação das mudanças ocorridas na linguagem desse gênero, originalmente jornalístico, na passagem de uma mídia para outra. Considerando-se que cada meio tem suas especificidades, haveremos de colher peculiaridades que as diferenciem. Posteriormente, iniciou-se a interpretação das charges à luz das ideias de Peirce, de Bakhtin e Bergson. Finalmente, comparadas as charges fixas e as online, buscamos verificar em que medida as mudanças na linguagem, operadas pelo suporte, interferem no potencial humorístico da charge online.
Considerações sobre o riso: interpretante dinâmico das charges
Sendo a charge um signo, tomemos de empréstimo as palavras de Peirce:
Um signo, ou representamen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez, um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado, denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de ideia que eu, por vezes, denominei, fundamento do representamen (Peirce, 1999, p. 46).
O signo só é signo porque está apto a representar, denotar, referenciar outra coisa, diferente dele, chamada objeto. Vale ressaltar a palavra “diferente”: o signo nunca será o objeto, será sempre algo diverso dele e que estará no lugar dele. Para completar a tríade de que o signo se constitui, advém o efeito que o signo provoca numa mente: o interpretante. Enquanto signo que é, a charge capta do mundo “real” o contexto sócio-político, seu objeto. A maneira como o faz é que interessa à semiótica, já que analisar a maneira como a mensagem se configura é tarefa do leitor de signos. Finalmente, o signo/charge irá provocar na mente de um intérprete um efeito de sentido: este último, o interpretante peirceano. O interpretante maior que a charge pode provocar é o riso; contudo, isso exige do leitor uma experiência colateral ou uma familiaridade com o objeto que garanta compreensão do signo no nível de “criticidade” que a charge requer.
A charge traz em seu corpo sígnico caricaturas dos governantes, paródias dos acontecimentos políticos, críticas ao sistema de forma ferina e sarcástica que podem/devem provocar o riso no “leitor”. Mas que tipo de riso é esse? De acordo com Souza, o riso que a charge provoca – lembrando que aqui estamos nos referindo às charges fixas ou impressas – é um “riso crítico e corrosivo que funciona como elemento refrator, contra-ideológico por excelência (...). É um riso ambíguo que se volta contra o próprio sujeito ao revelá-lo como objeto do riso. Riso que tem a força de ludibriar e desentronizar o poder” (Souza, 1986, p.85).
Bakhtin (2002), ao analisar o riso, examina o contexto em que se passavam os romances de François Rabelais. Rabelais destronava o soberano, a Igreja; já o chargista destrona os políticos. Ao ridicularizar o poder, derribar o rei de seu trono, tecer-lhe injúrias, vê-se corporificar a carnavalização, que tem no riso sua principal força.
O riso da Idade Média, que venceu o medo do mistério, do mundo e do poder, temerariamente desvendou a verdade sobre o mundo e o poder. Ele opôs-se à mentira, à adulação, e à hipocrisia. A verdade do riso degradou o poder, fez-se acompanhar de injúrias e blasfêmias e o bufão foi seu porta-voz (Bakhtin, 2002, p.80).
Henri Bergson, outro autor que se ocupou de estudar o riso, trabalha com a comicidade em suas variadas formas: comicidade nas caricaturas, comicidade de situações, de palavras e de caráter. Primeiramente o autor afirma que “não há comicidade fora daquilo que é propriamente humano” (2001, p.2), ou seja, a comicidade existe porque nós, seres humanos, somos os agentes e o alvo do riso.
Uma das primeiras análises de formas cômicas possíveis é a caricatura. Para Bergson, o caricaturista distorce partes do corpo: um nariz, uma boca, uma cabeça, ou distorce, ainda, um trejeito ou vezo, mas na verdade, a natureza é que teceu as características, e o cartunista só se deu ao trabalho de mostrar-nos.
Entende-se agora a comicidade da caricatura. Por mais regular que seja uma fisionomia, por mais harmoniosa que suponhamos serem suas linhas, por mais graciosos os movimentos, seu equilíbrio, nunca é absolutamente perfeito. Nela sempre se discernirá o indício de um vezo que se anuncia, o esboço de um esgar possível, enfim uma deformação preferida na qual se contorceria a natureza. A arte do caricaturista é captar esse movimento às vezes imperceptível e, ampliando-o, torná-lo visível para todos os olhos (Bergson, 2001, p.19).
Tanto as charges de jornal impresso quanto as on-line constituem-se de caricaturas. O cartunista tem de reconhecer certa peculiaridade de um indivíduo e, ao desenhá-la, fazê-la transparecer aos leitores. Entretanto, “rimos bem menos dos desenhos em si do que da sátira ou da cena de comédia que ali está representada” (Bergson, 2001, p.22).
O autor descreve ainda outras formas de comicidade:
Deixar-se levar, por um efeito de rigidez ou de velocidade adquirida, a dizer o que não se queria dizer, ou a fazer o que não se queria fazer (...). Por isso, a distração é essencialmente risível. Por isso também se ri daquilo que pode haver de rígido, pronto, mecânico no gesto, nas atitudes e mesmo na fisionomia (Bergson, 2001, p.82-83).
O riso é, antes de tudo, uma correção dessa distração e automatismo. “O riso é certo gesto social que ressalta e reprime certa distração especial dos homens e dos acontecimentos” (Bergson, 2001, p.65). Há distração não só nos atos, mas nas palavras, frases e gestos. Assim, quando rimos de alguém ou de um acontecimento, estamos, na verdade, objetivando corrigir a pessoa ou o ato que gerou o riso. O riso é, de certa forma, uma humilhação. Também a comicidade na linguagem é uma das formas apresentadas pelo autor em que podemos observar novamente o componente da “distração”. O jogo de palavras, por exemplo, onde se dá a uma única frase dois significados independentes, é cômico porque “denuncia uma distração momentânea da linguagem e por isso, aliás, é engraçado” (Bergson, 2001, p.91).
A paródia, presença assídua nas charges é, sem dúvida, uma forma cômica. Retira-se a expressão natural de uma ideia e transporta-se para um outro tom, obtendo-se o efeito cômico. Muitos filósofos, de acordo com Bergson, definiram a comicidade como degradação: esta é a comicidade própria da paródia.
O exagero e a ironia também entram no rol das formas de comicidade da linguagem. Por fim, a comicidade de caráter.
Um caráter pode ser bom ou mal; pouco importa: se for insociável, poderá tornar-se cômico (...) a gravidade do caso não importa tampouco: grave ou não grave, ele poderá fazer-nos rir se tudo for arranjado para que não nos comova (Bergson, 2001, p.109).
Desta forma, é preciso que o personagem-alvo da comicidade seja insociável, ou seja, que possua características ou até mesmo defeitos que façam com que sintamos certa repulsa por ele. Mas é necessário também que haja uma insensibilidade do espectador, ou seja, que não haja sentimento ou certa compaixão para aquele objeto do riso.
Nas charges é possível esbarrar nesse tipo de comicidade. As charges selecionadas, que se referem à época de reeleição do presidente Lula, trazem, muitas vezes, como alvo do riso os candidatos à presidência em 2006. Se houver algum sentimento, alguma compaixão diante das charges mostradas, não haverá riso. O espectador deverá enrijecer-se diante de charges em que algum defeito (muitas vezes moral) é posto em questão.
Voltando à teoria semiótica, o processo interpretativo que uma charge, enquanto signo, requer passa pelos três níveis que o interpretante dinâmico permite: emocional, energético e lógico. Num primeiro momento, há que se captar as qualidades inerentes ao signo (emocional) que, por sua vez, despertará na mente do leitor um tipo de reação mental e física que se presentifica no próprio riso (energético). Ora, o riso é a reação imediata de um signo cuja linguagem de choque, do aqui e agora, leva a reflexões (lógico)... Neste último nível do interpretante dinâmico, indagações sobre as situações reveladas pela charge, levam-nos a tomar posicionamentos, a fazer escolhas, enfim, podem implicar mudanças de hábitos de pensamento ou aquisição de novas crenças...
A partir daí, nos questionamos: será que esse caráter reflexivo das charges fixas se mantém nas charges online? Será que o nível de interpretabilidade leva à profundidade das reflexões? Quanto ao riso, será que encontraremos nas charges online o mesmo tipo de riso revelado pelas charges fixas, que destrona e corrói o poder? E mais, a experiência colateral que se exige para o conhecimento do objeto é a mesma de uma charge para outra? A análise comparativa entre os dois tipos de charge é, dessa forma, imprescindível.
Souza e Drigo (2006), ao caracterizarem a charge como produto ideológico, reportam-se a Bakhtin na sua concepção de que a ideologia está encarnada na materialidade do signo que, enquanto tal, tem coladas duas faces: o caráter refletor e o refrator do real.
Através da materialidade significante – grafismo, texto verbal, traço humorístico – virá à tona essa duplicidade: ao refletir a realidade, a charge compactua com o sistema, assumindo a força do discurso competente – o discurso cuja linguagem é institucionalmente permitida ou autorizada; ao refratar a realidade, ela deixa escapar as fissuras da dominação. Ou seja, ao deformar, a caricatura aponta para outro discurso, para outro signo, para outra linguagem. É na deformação do referente original que existe o desvio revelador do aspecto ideológico. É nesse desvio que o signo, ao refletir, quebra a direção e transforma, transfigura, refrata a realidade (Souza e Drigo, 2006, p.4).
Dessa forma, a charge é um sistema de linguagem altamente corrosivo, que pode ferir e minar o poder. Trata-se também de uma linguagem que pode desmascarar, trazer à luz a ideologia solidificada em nossas mentes. Se certa homogeneidade nos modos de interpretação do mundo é fornecida aos indivíduos de uma dada formação social, nas suas maneiras de sentir, querer, julgar e de se conformar às suas condições reais de existência, a charge surge para tentar perfurar, descobrir os véus, revelar as artimanhas e minar a força dos dominantes.
Utilizando metáforas, antíteses, hipérboles, entre outras figuras de linguagem, as máscaras do poder dominante vão caindo, o leitor da charge tem a oportunidade de enxergar além do que os soberanos nos trazem à visão. Tais figuras de linguagem estão contidas nas charges com o intento de acentuar a crítica. A carnavalização e a paródia também fazem parte deste gênero que busca dissolver falsas crenças e reforçar os aspectos críticos.
Além disso, as charges são caracterizadas por uma linguagem sintética: muitas vezes apresenta-se só através de imagens, sem qualquer texto; outras vezes, palavra e imagem convivem no mesmo espaço. Da linguagem sintética retiramos um aspecto essencial na construção do humor e das críticas que as charges apresentam em suas composições: o choque. Da colisão de uma figura com uma frase, ou de duas palavras ou o choque de imagens, enfim, da colisão de dois objetos ou fatos eclode um significado. É a metáfora por conflito advinda do experimentalismo de Eisenstein (apud Campos, 1977) na construção da montagem cinematográfica que aqui se instala. Para Eisenstein, a base teórica da montagem está na escrita japonesa, isto é, da combinação de dois hieróglifos surge um conceito.
O mesmo processo se apresenta nas charges: imagem combinada a frases, gestos combinados a palavras ou apenas a imagem, sozinha, quando deixa que o conflito advindo do contexto político que é seu objeto se instaure. Essas ideias, ao colidirem, revelam um significado: colisão esta, própria do aqui e agora.
Todas as características descritas correm nas veias das charges fixas. Mas será que elas estarão presentes nas charges animadas? E que outras características surgirão nesse novo estilo de charge?
Para obtermos um parâmetro de comparação mais fidedigno para essas questões, partiremos, então, para análise de uma charge impressa do Jornal Folha de São Paulo.
Charge fixa: linguagem do choque
A charge de 10 de outubro de 2006, da Folha de São Paulo, registra um dos debates televisivos ocorridos no segundo turno. A questão do debate é significativa pelo fato de, no primeiro turno, não ter havido a presença do candidato à reeleição.
A charge apresenta os dois candidatos, Luis Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, atrás de seus respectivos palanques, segurando e apontando um para o outro vários tipos de armas: faca, revólver e uma arma mais pesada nas mãos de Alckmin. Outras armas encontram-se no local, tais como facas e flechas, já atiradas e fincadas em seus respectivos palanques.
O signo exposto representa uma paródia dos acontecimentos que ocorreram com frequência nos debates de segundo turno: a troca de acusações entre os dois candidatos. A paródia aqui “converte num jogo alegre e totalmente desenfreado tudo o que é sagrado e importante aos olhos da ideologia oficial” (Bakhtin, 2000, p.77).
As armas funcionam como signo que tem como objeto dinâmico o cenário de violência verbal que marcou a postura de tais candidatos. Elas se tornam metáfora das acusações e denúncias por parte de ambos e, por sua vez, acentuam a crítica e acabam por intensificar os interpretantes. Além disso, as ideias de armas/ debate eleitoral colidem-se e fazem aflorar a interpretação da “guerra eleitoral” em que se transformou o cenário político brasileiro entre setembro e outubro de 2006. E mais uma vez esbarramos no choque, no conflito, que provoca interpretações a partir da combinação de objetos.
Ainda sobre as armas, a presença de facas e de flechas no cenário leva-nos a deduzir que os lutadores/candidatos revelam atitudes primitivas: ao invés de debater ideias, o que configuraria evolução, civilidade, preferem guerrear, trocar insultos, atirar flechas. Mais uma vez nos deparamos com a metáfora, produtora do riso e do humor.
Outro aspecto que chama a atenção daquele que lê a charge é a cor preta nas vestimentas dos dois candidatos. Além de se presentificar no terno de ambos, intensificando uma relação de semelhança ou “identidade” entre os presidenciáveis, a cor preta enfatiza a informação visual, chama a atenção e “quanto mais intensa ou saturada for a coloração de um objeto ou acontecimento visual, mais carregado estará de expressão e emoção” (Dondis, 1997, p.66). Ela carrega, ainda, a simbologia de luto, morte, guerra, qualidades de sentimento que se instauram no palco dos debates.
Ademais, todas as armas, tanto as das mãos dos candidatos quanto as já atiradas, estão na horizontal. A direção, de acordo com Dondis (1997), pode apresentar forte significado associativo. No caso, imagens na horizontal sugerem equilíbrio. O equilíbrio pode ser verificado na imagem como um todo. Nosso olhar não é atraído em demasia para nenhum dos lados. Há um efeito ordenado e organizado de peso/contrapeso se traçarmos o eixo vertical e horizontal no desenho. Soma-se a isso o fato de que nos debates eleitorais nenhum deles saiu vencedor completo, de acordo com os jornais da época: o equilíbrio revelou-se também nessa instância.
Centremos, agora, nosso olhar nos presidenciáveis. O tamanho do candidato Luiz Inácio Lula da Silva coincide com o da tribuna, de modo que alcançar o microfone seria um esforço inglório. A voz deixa de ser a “arma” do debate e dá lugar à sua representação literal. A tribuna funciona como escudo, como forma de se defender das acusações proferidas pelo outro candidato. Os olhos do presidente cerrados, mirando o candidato adversário, sugerem a ideia de tensão, conflito.
Chama atenção, no candidato Geraldo Alckmin, o tamanho da arma que ele carrega. Tal envergadura está relacionada com o peso das denúncias que fazia: o envolvimento do partido do presidente Lula – e dele próprio – com os recentes episódios de corrupção.
A paródia é o esqueleto dessa charge. Ao rirmos da paródia estamos, na verdade, visando denunciar e corrigir as atitudes dos candidatos à presidência. Mas além de, inconscientemente, querermos corrigir, a esse ato “se mistura uma segunda intenção que a sociedade tem em relação a nós quando nós mesmos não a temos. Mistura-se a intenção inconfessa de humilhar” (Bergson, 2001, p.102). Ao humilharmos, entramos novamente no campo de Bakhtin, que vê no riso uma forma de desprestigiar o poder. A charge, ao caricaturar as autoridades, dá vida à carnavalização na qual as injúrias e golpes aos soberanos são permitidos. E mais uma vez nos deparamos com a função essencial do riso nas charges fixas: criticar e desmascarar o poder, tornar transparente os meandros da ideologia dominante. O riso na charge não quer divertir ou alegrar, quer virar o jogo, quer mudar a História, quer permanecer como “uma arma de libertação nas mãos do povo” (Bakhtin, 2000, p.81).
Charge online: linguagem do choque?
Tendo a linguagem das charges fixas ou impressas como parâmetro, torna-se possível pensar nas charges animadas da internet. Comecemos por seu suporte: a hipermídia.
A hipermídia surge com o advento da digitalização quando ocorreu a união dos diversos suportes que antes eram impossíveis de se fundirem. Mas é a mistura das matrizes da linguagem (sonora, visual e verbal) a consequência que mais nos interessa. A hibridização das três formas de linguagem afeta diretamente os rumos das análises das charges animadas e sua comparação com as do jornal impresso, afinal “toda nova linguagem traz consigo novos modos de pensar, agir, sentir” (Santaella, 2001, p.392).
Diferentemente das charges de jornal impresso, nas quais o verbal e o visual imperam no seu corpo sígnico numa linguagem altamente sintética, as charges animadas são confeccionadas utilizando, além dessas duas matrizes, a linguagem sonora.
Comecemos pelo som, que pode ser uma voz, um ruído ou uma canção. Com exceção do ruído, verifica-se a presença da linguagem sonoro-verbal que, em termos semióticos, consiste na mistura do icônico com o simbólico. Lembremos que icônicos são os signos que sugerem o objeto por meio da semelhança e, em sendo assim, a voz do presidente Lula nas charges animadas, por exemplo, cumpre o seu papel de ícone. Tanto nas vozes quanto nas canções, é possível localizar signos verbais que nos fazem compreender o mundo e conectar ideias através de uma convenção. A palavra, justaposta ao som, insere características próprias do símbolo, já que se trata de um signo de lei por excelência.
As imagens, por sua vez, são dominantemente indiciais: intentam imitar com fidelidade o objeto. Nas charges fixas foi possível verificar essa característica, já que a caricatura é uma espécie de retrato, apresentando assim uma conexão existencial com o objeto retratado. Ainda que a distorção seja uma característica inerente à caricatura, ela se coloca a serviço da imitação: ao acentuar os traços mais proeminentes, facilita o reconhecimento do retratado. O mesmo ocorre nas charges animadas. Também é possível encontrar caricaturas de personalidades bastante semelhantes ao objeto real. A diferença entre as imagens das charges fixas e das animadas reside em dois aspectos de extrema importância: no movimento, e na sua natureza.
As imagens das charges animadas, por estarem em movimento, passam para a matriz da linguagem visual-sonora, partindo do pressuposto de que “a lógica do sonoro não precisa necessariamente estar expressa em sons. Ela pode tomar corpo em imagens, e é de fato isso que acontece quando a imagem se põe em movimento, no cinema, no vídeo, na televisão e também na computação gráfica” (Santaella, 2001, p. 383). O conteúdo das imagens é tão impositivo que acabamos por não perceber o conteúdo sonoro que é, nesse caso, “o aspecto meramente rítmico, temporal das imagens” (idem, p. 383).
Quanto à natureza, ela é uma imagem numérica ou digital, isso porque quaisquer fontes de informação quando digitalizadas são homogeneizadas em cadeias sequenciais de 0 e 1 chamadas bits. Dessa forma, imagens, áudio, vídeos, reduziram-se a uns e zeros quando passaram pelo processo de digitalização.
As imagens, em sua maioria, são formadas por pixels, sendo que cada pixel possui um valor. Existem duas formas de se obter a imagem numérica: a partir de uma imagem real (desenhos, fotografias, pinturas), o computador numeriza a imagem e a transforma em pixel, outra possibilidade é descrever matematicamente um objeto qualquer no computador para, em seguida, visualizar a imagem.
Ainda fazendo uso do pensamento semiótico, se é verdade que entre nós e o mundo exterior signos se interpõem, então nas malhas do computador uma nova forma de signo passou a existir. Os valores numéricos, tais como algoritmos, sequências binárias, etc – que são, na verdade, a razão de existir de todas as fontes de informação – seriam signos que representam alguma coisa diferente deles: podem ser imagens, textos, vídeos. E o efeito que provocam é justamente a visualização de imagens, audição de sons, etc.
No tocante à interatividade, diante de charges animadas, o “expectador” encontra algumas maneiras que o permitem escolher entre três possibilidades de diálogo entre os personagens. A partir do momento em que ele passa a clicar com o mouse, decidir sobre o rumo da charge, dialogar com ela, a interatividade emerge. A interatividade ou modo dialógico, nas palavras de Couchot, apresenta-se sob inúmeros aspectos. Em primeiro lugar, nos dispositivos de entrada e saída acoplados ao computador, ao teclado, ao mouse, a esferas deslizantes e canetas óticas. Todos são exemplos de meios de interatividade exógena que condicionam o diálogo homem/máquina e colocam “obrigatoriamente em jogo processos computacionais que se interpõem entre a ação do usuário e a resposta do computador” (Couchot, 2003, p.170).
Mas, antes de tudo, a interatividade é uma característica intrínseca à hipermídia. Em segundo lugar existe uma “interatividade entre os objetos numéricos que estão na fonte da imagem” (COUCHOT, 2003, p.167). Dessa forma, mesmo que a charge não exija do expectador uma decisão durante a apresentação, como um clique no mouse, ou seja, mesmo que a charge animada somente se apresente a nós, a interatividade estará presente nos diálogos internos dentro da máquina. “O computador só trata as informações expressas na sua linguagem” (Couchot, 2003, p.170).
Por fim, a interação se faz com a imagem percebida e o cérebro. Haverá uma interação entre a imagem mostrada pelo computador e sua interpretação pelo cérebro “o olhar modifica, efetivamente, a imagem percebida” (COUCHOT, 2003, p.170). Ousamos dizer que esta última é a forma de interação que coincide em qualquer tipo de signo, em qualquer suporte. O processo interpretativo advém dessa interação.
Todas as charges da internet utilizam-se do software “flash player”. É com esse programa que os chargistas e caricaturistas desenham e animam seus personagens.
Já foi dito que, para esta investigação, o objeto dinâmico do material escolhido para análise – uma charge fixa e outra animada – é o cenário político de setembro/outubro 2006. O objeto imediato, que é a maneira como o objeto dinâmico aparece no signo, pode assumir características peculiares de acordo com o suporte; desta forma, ao se estabelecer uma comparação entre as charges, há que se levar em conta, por exemplo, que o movimento e a matriz sonora estarão presentes, efetivamente, apenas nas animadas. Vejamos como.
A música é presença assídua nas charges animadas e geralmente aparece sob a forma de paródia de canções populares. A paródia, como vimos, é uma forma de comicidade. Ela diverte transmutando determinada situação, acontecimento real, a partir da transposição de um tom sério para a brincadeira, para uma forma fictícia que privilegia um tom lúdico. A escolha de músicas populares visa atrair todos os tipos de pessoas. Só a música em si já é um atrativo - quando ela é famosa, a atração dobra.
Enquanto nas charges de jornal impresso o visual era o principal meio de sedução, aqui, as matrizes da linguagem visual-sonoro-verbal mescladas empolgam quem ouve e vê a charge. E é a partir desse festival sinestésico que se pode afirmar que tal hibridização das charges animadas por meio de músicas, imagens em movimento, sons, aguça nossos sentidos. Concentramo-nos muito mais nesses aspectos, que acima de tudo nos divertem, em detrimento da crítica que a charge animada transmite. Vejamos como os elementos em questão se verificam na charge online a seguir.
A charge de 10 de outubro de 2006, com o título “Debate-bate”- www.charges.com.br -, dialoga com a charge fixa anteriormente analisada. Partilha com ela o mesmo objeto dinâmico: o panorama político referente à época da luta pela presidência da República dos candidatos Luís Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin e os apresenta na mesma situação anterior – um debate na TV. Para identificar o objeto imediato é necessário supor quais são as qualidades do objeto que são apropriadas pelo signo. Lembremos que o objeto imediato – objeto tal como o signo aparece no interior do signo e não o signo propriamente – traz o hibridismo como marca: música, imagens coloridas e vibrantes, caricaturas bem expressivas, movimento presentificam-se no corpo sígnico da charge.
Ao vislumbrarmos a imagem parada, deparamo-nos com os dois candidatos já a postos para o início do debate. O cenário traz como novidade o pano de fundo feito de palavras (“corrupção”, “lama”, “denúncias”, “conchavo”) que explicitam as acusações que, mutuamente, serão trocadas. Estando distribuídas em ambos os lados, elas os aproximam: paradoxo instaurado pela linguagem visual. Aqui a metáfora das armas que se delineou na primeira charge, dissolve-se na linguagem verbal: não é mais necessário atribuir às armas os nomes que fundamentam as acusações, a palavra dá conta de não mais sugerir pela analogia, isto é, a violência verbal que era metaforizada anteriormente passa a ser literal.
Assim que a charge online é acessada ou posta em movimento, a linguagem sonora se apresenta, cumprindo, da mesma forma que a linguagem visual, o papel de contextualizar o cenário ao receptor. Principia por provocar um duplo efeito: ora de reconhecimento do cenário em que o fato a ser narrado se dará – ouve-se uma música típica dos programas de debates nas emissoras brasileiras –, ora de desmistificação desse mesmo cenário, originalmente pautado pela seriedade, com a introdução de risos advindos de uma plateia em off. Paráfrase e paródia, respectivamente, se irmanam nessa previa do debate: paráfrase por reproduzir mecanismos próprios de um debate televisivo; paródia por dessacralizar esse mesmo programa ao associá-lo a programas humorísticos. Todas as acusações já citadas na charge impressa analisada, tais como, “mensalão”, abafar CPIs, “aerolula”, vestidos da esposa de Alckmin, retornam aqui num tom menos ácido, porque permeado pela gozação da “claque”. Somada a essas referências que a linguagem verbal protagoniza, chama-nos atenção a fala final de Lula sobre corrupção: “se vazar, quer dizer, se acontecer em meu governo”. De acordo com Bergson (2001, p. 82) “deixar-se levar, por um efeito de rigidez ou de velocidade adquirida, a dizer o que não se queria dizer, ou a fazer o que não se queria fazer: como sabemos, essa é uma das grandes fontes da comicidade”. Essa distração nas palavras é uma forma de comicidade que acaba por acentuar os interpretantes.
No tocante à configuração da linguagem da charge online, as imagens em movimento e os sons – advindos de risos, música de abertura do debate, falas dos personagens – fortes características das charges animadas, apontam para um dos principais aspectos desse modelo de charge: a hibridização, que mescla o visual e o sonoro, o verbal e o sonoro, respectivamente. Sonoro tanto em relação ao aspecto rítmico e temporal das imagens, quanto sua característica de qualidade primeira. Desta forma, “as três matrizes da linguagem e pensamento não são mutuamente excludentes. Ao contrário, comportam-se como vasos intercomunicantes, num intercâmbio permanente de recursos e em transmutações incessantes” (Santaella, 2001, p.373).
Ainda com relação às imagens em movimento, uma questão deve ser enfatizada – o não uso da tecnologia de que a internet e programas de computador podem oferecer. As charges animadas poderiam ser muito mais sofisticadas se exploradas as possibilidades da mídia. Os personagens presentes na charge em questão são como bonecos que movem seus braços e corpo de forma rudimentar, até mesmo “precária”, objetivando imitar real movimento humano. São como robôs. Mas tal automatismo, de acordo com Bergson pode configurar-se como cômico, considerando-se que a comicidade é o “aspecto dos acontecimentos humanos que, em virtude de sua rigidez de um tipo particular, imita o mecanismo puro e simples, o automatismo, enfim o movimento sem vida” (BERGSON, 2001, p.65).
O riso, mais uma vez, é o interpretante das charges animadas, mas teria ele a mesma força corrosiva? Ora, prestamos atenção nas músicas, nas palavras faladas, nas formas coloridas em movimento e nos deixamos levar por esta entorpecente sinestesia. São muitas as informações que redundam via representações variadas advindas da contribuição das várias linguagens. Aparam-se as fendas, não se abre espaço para associações ou reflexões mais profundas. E aqui fazemos uma analogia que pode sintetizar a peculiaridade das linguagens em exame: enquanto a charge fixa/impressa faz um corte no contexto, sintetizando num único quadro sua visada crítica; a charge online conta com variadas linguagens na narrativa de vários quadros/cenas, uma narrativa linear que a aproxima da prosa.
Considerações finais: uma nova forma de se fazer charge
Retomemos a fala de Couchot (2003, p.177): “à medida que progride, a tecnociência informática dá nascimento a um imenso universo virtual, que não cessa de se expandir” para aqui completarmos com o fato de que a cada avanço, uma nova linguagem. Passamos pela escrita, pela fotografia, pelo rádio e televisão e estamos presenciando a era do computador. “Trata-se, de fato, de uma linguagem inaugural em um novo tipo de meio ou ambiente de informação no qual ler, perceber, escrever, pensar e sentir adquirem características inéditas” (SANTAELLA, 2001, 390).
Lembremos que a charge nasceu em jornal impresso, mas teve de expandir sua presença se quisesse acompanhar o ritmo da evolução e encontrou no ciberespaço um novo abrigo. Que mudanças advém dessa transposição?
A linguagem sintética da charge impressa em oposição à linguagem narrativa linear característica da charge online leva-nos a algumas pressuposições. Inicialmente, centramo-nos no fato de que, enquanto marca registrada da charge fixa, a peculiaridade da linguagem sintética aproxima-a da poesia. Nessas charges há, na maioria das vezes, somente um quadrinho, uma cena enxuta que exige rapidez na articulação dos códigos verbal/visual. Já as animadas, que podem durar minutos, possuem inúmeras cenas, inúmeras imagens sequenciais com começo, meio e fim. Assistimos à charge como quem assiste a um desenho animado. Sua linguagem linear a aproxima da prosa. Uma linguagem, antes de tudo, virtual, onde nas malhas do computador, algoritmos, sequências binárias, cálculos trabalha para fornecer ao expectador da tela uma imagem, um som, um texto. Ademais, outra matriz passa a incorporar seu universo: além do visual e do verbal, presentes nas charges fixas, o sonoro surge e a mistura das três matrizes passa a ser imperativa em seu corpo físico. A sinestesia que a charge animada provoca naquele que a vê, a lê e a ouve é, de certa forma, hipnotizante. Presta-se muito mais atenção nos movimentos dos personagens/bonecos, nas vozes (icônicas, já que se assemelham às vozes de pessoas conhecidas) e caricaturas engraçadas (indiciais, pois existe uma ligação de fato entre a caricatura e a pessoa retratada), nas cores vivas, nas paródias musicais do que na crítica ali presente.
Outra consequência advinda do fato de que na charge online a linguagem sintética se esvai, delineia-se na relação com o receptor. Pressupomos que uma mudança ocorre no que diz respeito ao repertório dos leitores da charge. Sabemos que toda leitura exige experiência colateral, o que varia é o grau de dificuldade para a decodificação. No caso das charges fixas/impressas, as imagens carregadas de signos impregnados de crítica, frases ou diálogos enigmáticos, exigem do leitor um repertório mais consistente e, até mesmo, um grau mais elevado de intelectualidade. O mesmo não ocorre nas charges animadas. As falas ou músicas explicam a charge e a crítica nela presente. Cada linguagem concorre, com seu potencial representativo, para explicitar os significados que se depreendem daquele signo. A redundância passa a ser a relação mais contundente entre essas linguagens para facilitar o entendimento da mensagem. Ainda que o telespectador não a “entenda” em profundidade, é certo que ele terá bons momentos de diversão.
E então rimos das charges animadas..., mas não o riso de Rabelais que “tornou-se expressão da consciência nova, livre, crítica e histórica” (BAKHTIN, 2002, p. 63). Não o riso ambíguo que é, antes de tudo, uma arma nas mãos do povo. Não o riso de Bergson que quer corrigir e humilhar. O riso, interpretante máximo das charges, passa a adquirir outra natureza nas charges online: diversão e o entretenimento são seus objetivos, mais que a critica contundente. A ausência da linguagem sintética, responsável pelo choque, deu lugar a uma história que pode durar minutos e que mais se assemelha a um desenho animado.
Há, portanto, uma queda no potencial humorístico da charge, quando ela passa do jornal impresso para a internet? Se falarmos na questão do humor como crítica, então existe sim uma queda nesse potencial, afinal, foi dito que o riso de cada gênero de charge aqui estudado possui naturezas diferentes. E a charge animada prioriza o riso como diversão. Entretanto não se deve, com isso, desmerecer a charge animada: com sua linguagem e características próprias o que temos é um novo gênero ou uma nova forma de se fazer charge, e de rir...
1Professora do programa de Mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade de Sororcaba (Uniso). Trabalha na linha de pesquisa Análise de processos e produtos midiaticos. Pesquisa as relações entre palavra e imagem aplicadas à comunicação, bem como as interfaces entre comunicação e artes.E-mail luciana.souza@prof.uniso.br
The purpose of this study is to verify that the humorous potential of charge online using as a traditional printed or fixed charge. Seeks to ascertain what the likely effect of the animated cartoons are likely to cause the mind of an interpreter and to compare these effects with those of the fixed charges of the printed newspaper. Moreover, the objective is to reflect on the maintenance of the humorous potential of the charges when they move from print to Internet. The relevance of this empirical research is in fact to deepen the understanding of charge as a language that has humor in his interpretant greater.
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CD-ROM Intelex Corporation, com a coletânea de HARTSHORNE, C. & WEISS, P. (vols. I-VI), 1959, e BURTS, A. W. (vols. VII-VIII), 1958. The Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Harvard University Press, 1994.