Repúblicas da instabilidade: o domínio sobre os indígenas e africanos e a soberania régia nas Américas (1542-1549)

Autores

  • Rodrigo Bonciani Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Resumo

Entre 1542 e 1549, as Coroas de Castela e Portugal desenvolveram um novo marco político da colonização das Índias Ocidentais e do Brasil. O artigo analisa as medidas tomadas, demonstrando que a especificidade da soberania régia sobre as Américas se deu pela constituição de um aparato de governo e pela definição do rei como legitimador e mediador das relações de dominação sobre as populações indígenas, em que o tráfico de escravos africanos foi um elemento importante para essa construção. O artigo atualiza a análise das Leyes Nuevas e do regimento de Tomé de Sousa inserindo-os nos debates e reflexões atuais da historiografia: da nova história política; da história conectada; e da ideia de complementaridade entre a política indigenista e o tráfico negreiro associada à construção da autoridade régia. O artigo sugere algumas conclusões: as práticas diferenciadas das Coroas de Portugal e Castela e sua aliança dinástica estabeleceram um campo unificado de experiências de colonização ibero-atlânticas; a expansão ultramarina foi um elemento essencial para a construção da noção moderna de soberania e a problemática do domínio sobre as populações não cristãs uma de suas chaves explicativas; o escravismo, as formas senhoriais de dominação e as limitações da condição política e da liberdade indígenas foram fatores que ampliaram a confusão entre o público e o privado nas sociedades americanas, caracterizando-as como repúblicas da instabilidade, marcadas pela distância radical entre a representação e caracterização da autoridade política e as práticas de dominação pelos agentes coloniais.

Palavras-chave: soberania, política indigenista, tráfico de escravos africanos, práticas de dominação, repúblicas da instabilidade.

Biografia do Autor

Rodrigo Bonciani, Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Professor Adjunto II do curso de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Brasil. Possui experiência em História Social e Política, com ênfase em História Moderna e Ibero-atlântica. Principais temas de investigação: formação das monarquias ibéricas e dos impérios ultramarinos; pensamento político moderno; tráfico de escravos africanos; legislação indigenista. Participa dos seguintes grupos de pesquisa: A Monarquia Hispânica e o império dos Felipes (1580-1640); Estudos da América Indígena; Núcleo de Estudos Afro-Latino-Americanos (NEALA). Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo (USP), 2010. Pós-graduação lato sensu pelo Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), Espanha, 2007. Investigador visitante da Universidade Nova de Lisboa (UNL), Portugal, 2006. Bacharel e licenciado em História pela USP, 2001. De seus artigos recentes, destacam-se: “Poder régio em mutação: expansão atlântica e alianças ibéricas no fim do século XV”, publicado na revista Nuevo Mundo-Mundos Nuevos, em 2014; “La libertad indígena como topos y la emergencia del poder apostólico en las Américas (1535-1542)”, publicado em Nueva Corónica, revista do departamento de História da Universidad de San Marcos, Peru, em 2015; e o aceite de “Guerra, domínio e soberania: experiências coloniais e império no Atlântico Sul, década de 1570”, na Revista de Indias.

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Publicado

2016-11-04