Filósofos naturais do demônio: astronomia, alteridade e missionação no sul da Índia, século XVII
Resumo
O longo processo de “invenção do hinduísmo” para as audiências europeias alto-modernas (que só viria a ser completado pelo movimento orientalista britânico do século XVIII) foi informado, desde o princípio, por narrativas de viagens, crônicas históricas dos feitos dos estados Ocidentais em diversas partes do subcontinente indiano, e, evidentemente, pela literatura missionária, que se apresentou em variados gêneros (cartas, relações, gramáticas, tratados, mapas etc.). Fontes seiscentistas de todas essas categorias abundam em exposições de costumes, rituais, “mitologias” e denúncias de idolatria (especialmente no caso de escritos de autoria de missionários) e ocasionalmente até fornecem algumas informações relevantes sobre conhecimentos locais referentes a matérias de história natural, mas costumam representar muito escassamente as tradições cosmológicas locais. Neste sentido, o tratado Livro da Seita dos Indios Orientais, escrito pelo jesuíta Jacome Fenicio na primeira década do século XVII (mas publicado – parcialmente – apenas na década de 1930, ainda que tenha circulado de modo razoavelmente amplo em manuscrito até o século XVIII), é uma notável exceção. A obra já começa com uma exposição das concepções cosmológicas dos brâmanes do Malabar (a quem o autor chama de “os Philosophos et Theologos naturais” daquelas partes) e procede à sua refutação com base na astronomia europeia contemporânea, tomada como autoevidentemente correta. O conhecimento natural é assim tomado, claramente, como um traço cultural chave, e, concomitantemente, como uma arma cultural a ser empregada na representação do outro, que é a função principal do livro. Examinamos aqui os detalhes da exposição de Fenicio e o lugar que ele confere às cosmologias europeias e indianas em políticas e modos de proceder mais largamente característicos da Companhia de Jesus, refletindo também sobre os usos das ciências para reforçar identidades e divisões culturais nas zonas de contato da primeira modernidade.
Palavras-chave: Astronomia (século XVII), Companhia de Jesus, Estado da Índia.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Concedo a Revista História Unisinos o direito de primeira publicação da versão revisada do meu artigo, licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista).
Afirmo ainda que meu artigo não está sendo submetido a outra publicação e não foi publicado na íntegra em outro periódico e assumo total responsabilidade por sua originalidade, podendo incidir sobre mim eventuais encargos decorrentes de reivindicação, por parte de terceiros, em relação à autoria do mesmo.
Também aceito submeter o trabalho às normas de publicação da Revista História Unisinos acima explicitadas.