Cerâmicas, identidades escravas e crioulização nos engenhos de Chapada dos Guimarães (MT)

Autores

  • Luís Cláudio P. Symanski

Resumo

Este artigo discute os modos nos quais os grupos escravos dos engenhos de Chapada dos Guimarães (MT) utilizaram cerâmicas localmente produzidas visando a afirmar identidades diferenciadas. A análise explora as dimensões de variação dessas peças considerando as flutuações nas origens dos escravos entre 1790 e 1888. As correlações observadas sugerem que: (a) cerâmicas decoradas produzidas localmente foram usadas para expressar identidades diferenciadas entre os escravos africanos; (b) alguns significado s amplamente difundidos na África subsaariana, relacionados ao simbolismo da cerâmica, foram reproduzidos em Chapada; e (c) o nível de significância que os escravos africanos atribuíram a essas peças não foi mantido pelos escravos afro-brasileiros. Essas evidências sugerem que, nessa região, o processo de crioulização foi generacional, só se consolidando quando uma população afro-brasileira, culturalmente mais homogênea do que a africana, tornou-se demograficamente dominante. É então discutida a distribuição das cerâmicas e de outras categorias de artefatos nos engenhos como uma estratégia através da qual os escravos se reapropriaram simbolicamente desses espaços de acordo com suas próprias percepções, impregnando-os com memórias e representações de origem africana.

Palavras-chave: cultura material escrava, identidades africanas, crioulização.

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Publicado

2021-06-11