A agricultura científica e a quimera da racialização na modernidade: uma genealogia global e uma percepção subtropical

Autores

  • Claiton Silva UFFS

DOI:

https://doi.org/10.4013/hist.2022.262.01

Resumo

O avanço da agricultura científica e industrial sobre florestas e territórios tradicionais vem recentemente ampliando o alcance de um conhecido drama vivenciado por
populações pobres rurais há décadas, além de também chamar a atenção para o problema
das mudanças climáticas. Na academia, a violência desse agro-hidro-negócio de grande
escala vem sendo estudada a partir das relações entre grupos privados e a conivência dos
governos. A partir deste debate, proponho uma genealogia histórica com foco nos fundamentos da violência nas práticas agrícolas sobre humanos e não humanos, como forma
de argumentar que, para além do latifúndio e da escravidão, outros eventos históricos
globais interferiram na produção de um paradigma agrícola racializado, hierárquico e
violento. Como um dos exemplos possíveis, observo que parte das elites nacionais com
domínio desse sistema de produção descende de imigrantes europeus que chegaram ao
Brasil justamente com o intuito de servir como mão de obra livre e para embranquecer
a população do país – uma verdadeira elite “técnico-racial”, moldada a partir da pretensa
melhor aclimatação de europeus nos subtrópicos. Interpretados pelo Estado como exemplos de modernidade, pequenos grupos agricultores neoeuropeus foram privilegiados por
uma série de eventos históricos que lhes garantiu a posse da terra e os firmou, em conjunto
com descendentes dos grandes latifundiários dos tempos coloniais da região Sudeste,
como alguns dos principais players de uma conexão global de produção de alimentos
após a ditadura civil-militar. O artigo baseou-se em fontes de artigos científicos, ensaios
do Pensamento Social Brasileiro e relatórios de imigração. A metodologia utilizada foi
a história global conectada, em diálogo com uma genealogia histórica não cronológica.

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Publicado

2022-05-25

Edição

Seção

Dossiê