Chamada Dossiê Comunicação na Era da Inteligência Artificial: da ideologia neoliberal ao colonialismo de dados
Comunicação na Era da Inteligência Artificial: da ideologia neoliberal ao colonialismo de dados
Editores convidados:
Claudia Nociolini Rebechi (Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR)
Nick Couldry (London School of Economics and Political Science)
Roseli Fígaro (Universidade de São Paulo - USP)
Syed Mustafa Ali (The Open University)
Não há dúvidas de que a comunicação se converteu em aspecto fundamental das forças produtivas no atual contexto de tecnologias digitais. A comunicação é uma relação tempo-espaço mediada por linguagens. O tempo-espaço sempre foi uma questão de embate na lógica da organização da vida das sociedades humanas. Ultrapassar as distâncias e dominar o tempo estão no centro de nossas inquietações. O conceito de desenvolvimento é atrelado à capacidade humana de agilidade de produção, circulação e distribuição de bens e conhecimento, e depende do controle do tempo-espaço.
Tendo isso em vista, o tempo-espaço é uma noção sócio-histórica que está no cerne da cultura humana. A roda, a navegação, a imprensa, a máquina a vapor, o correio, o trem, o avião, o telégrafo, o cinema e a internet têm no âmago o mesmo princípio: aproximar, comunicar, trocar, circular, produzir e entregar.
Os códigos das tecnologias digitais têm como base a compressão tempo-espaço. A linguagem como aspecto objetivo da capacidade humana de simbolizar, representar, planejar e criar tem na era digital uma base robusta, dependente de minérios, fibra óptica, cabos, plástico, vidro, água etc. Ao mesmo tempo, as sentenças matemáticas, as ordens e as instruções - incluindo as instruções vinculadas ao que é chamado de "inteligência artificial" (IA) - são os elementos simbólicos que se tornaram ferramentas de organização, gestão e controle do tempo-espaço e de tudo que é ou pode se tornar digital.
Nesta segunda década do século XXI, estamos diante de muitos desafios. A capacidade de infraestrutura propicia a criação de grandes empresas que nos oferecem a dimensão da instantaneidade, da conectividade, da transparência e do compartilhamento. Em troca, essas empresas extraem nossos dados. As lógicas do capital financeiro e de empresas plataformizadas têm os dados como equivalentes a minas de ouro, de prata, de petróleo, ou seja, é uma riqueza inesgotável enquanto houver vida.
Controlar essa riqueza no cenário de uma nova geopolítica desafia os Estados nacionais. Os órgãos plurilaterais de governança global também são desafiados. O desemprego cresce e o fosso entre ricos e pobres nunca foi tão grande. A ciência cria e o capital se apropria: do direito às vacinas ao acesso à internet; a desigualdade avança. A responsabilidade de resolver esses problemas foi imposta ao indivíduo que deve ser empreendedor, superar dificuldades, ser resiliente e exercer a liberdade individual de escolher o certo, o melhor e concorrer para ocupar o pódio dos bem-sucedidos.
Que comunicação é essa? Que desenvolvimento é esse? Que ciência é essa? Que barbárie é essa? O que esperar do futuro. Futuro é uma outra dimensão de tempo a ser controlada; mais um portal a ser suplantado pela tecnociência. O futuro que promete vida longa, talvez eterna, juventude, viagens espaciais, outros mundos. Ficção científica ou o futuro da ciência? Tantas são as questões possíveis.
Opressão, exploração e expropriação são elementos constitutivos do capitalismo contemporâneo intensamente integrados ao desenvolvimento de sistemas da chamada "Inteligência Artificial". A vida humana, neste contexto, é considerada uma fonte valiosa de dados extraídos, controlados e manipulados por poderosas corporações com o propósito de servir aos seus próprios interesses econômicos e políticos. As práticas de transformação de experiências humanas em dados avançam velozmente, promovendo assimetrias do capital evidentes. Formas de resistência e enfrentamento a esse fenômeno, no entanto, são possíveis e podem oferecer alternativas que promovam o bem comum, a cidadania e a democracia.
Este dossiê objetiva reunir pesquisas e estudos focalizados na inter-relação comunicação, tecnologia e sociedade e que contribuam para esse debate. Indicamos alguns temas para o desenvolvimento dos artigos:
· Comunicação na era da inteligência artificial;
· Algoritmos, controle de informações e comunicação pública;
· Inteligência artificial, controle e privacidade;
· Materialidade do trabalho e inteligência artificial;
· Inteligência artificial, tecnociência e neoliberalismo;
· Opressão algorítmica e trabalho digital;
· Perspectivas decoloniais nos estudos sobre plataformas;
· Inteligência artificial decolonial no local de trabalho;
· Vieses algorítmicos e racismo estrutural;
· Perspectivas feministas no contexto da inteligência artificial;
· Inteligência artificial e igualdade de gênero;
· Governança, ética e políticas de inteligência artificial.
DATAS CHAVE:
15 de abril - Prazo para envio de resumos de 500 palavras mais título, cinco palavras-chave e mini-bio dos autores para revistafronteiras@gmail.com
15 de maio - Resultado do processo de seleção dos resumos. A aprovação nesta fase significa que a proposta está apta para ser apresentada em formato de artigo completo e passar pelo processo de pareceres, podendo ser aceita ou rejeitada.
31 de agosto - Prazo para envio dos artigos completos via sistema da revista Fronteiras. As diretrizes estão no site: http://revistas.unisinos.br/index.php/fronteiras/about/submissions