O lado perverso da economia popular solidária: a exploração do capital nas relações de “trabalho solidário”
Resumo
Embora haja experiências bem sucedidas de Economia Popular Solidária (EPS), assentadas em bases comunitárias, na descentralização do poder e nas relações horizontais de trabalho pelo Brasil afora, há também grupos de trabalho que, sob o discurso popular de trabalho solidário, constroem suas bases em relações verticais de poder e exploração da mão-de-obra. O objetivo deste trabalho foi discutir essas relações verticais no âmbito da Economia Popular Solidária, a partir de um estudo de caso na Oficina e Produção de Artesanato Sustentável Moicato, um grupo de trabalho organizado na comunidade da área de posse do Jardim Goiás I em Goiânia/GO. Foram observadas as relações de trabalho entre os membros do grupo, incluindo a distribuição de receitas e despesas, o poder de decisão e as causas da participação, entre outros aspectos, e verificou-se que, apesar de ser considerado um grupo de EPS, há uma relação tradicional de capital e trabalho, com exploração da força do trabalho. O poder de decisão é centralizado nas mãos de poucos membros, não há divisão dos lucros obtidos, e a maioria dos membros recebe por produtividade. A contribuição deste paper é justamente a de chamar a atenção para este tipo de prática, problematizando a utilização do conceito, do discurso e da configuração jurídica de Economia Popular Solidária por determinados grupos que não aderem aos princípios básicos da EPS.
Palavras-chave: Economia solidária, capital, trabalhador e exploração do trabalho.